Bom, pra começar, desenho não é só coisa de lápis sobre papel. Um sinal gráfico feito com algum material sobre uma superfície qualquer, como a folha de papel, é somente o registro do gesto. O resultado visível de um processo. Mas desenho é também ação e ideia. Forma de pensamento. Meio, processo e fim. É Intenção, projeto, é intelectual. Mas também é imagem, é físico, é material. É um processo dinâmico e complexo, que envolve percepção, cognição, interpretação e tradução. E tudo isso acontece ao mesmo tempo. Por isso é difícil defini-lo.

Quando pensamos em desenho de observação, falamos especificamente da tradução de uma realidade observada (que é apreendida pelos olhos, interpretada e reconhecida pelo cérebro), em um processo técnico e motor (no registro gráfico da ação do lápis, segurado pela mão, sobre o papel, por exemplo, sempre comandada por nossa visão, memória e intenção). O desenho de observação de um objeto confere ao olho certo comando alimentado por nossa vontade.

Há uma diferença fundamental entre simplesmente olhar para alguma coisa (sem um lápis na mão e sem a vontade de representá-la) e observar essa mesma coisa com o intuito de desenhar. Há quem diga que são duas coisas muito diferentes que vemos*! Nossa visão desinteressada não nos revela todas as particularidades daquilo que se apresenta a nossa frente cotidianamente. Até mesmo as coisas mais familiares se tornam completamente diferentes quando as desenhamos. Percebemos aspectos que antes ignorávamos. Percebemos que não conhecíamos aquilo realmente.

Em geral, quando fazemos um desenho de observação prestando muita atenção aos detalhes, por mais que as partes estejam de acordo com o modelo ou a referência, o todo pode ficar esquisito; Mas, se deixamos de observar e construímos nossas figuras a partir de fórmulas prontas, perdemos a relação de semelhança, a espontaneidade, entre outras coisas. O desafio é, portanto, ao mesmo tempo, manter atenção às partes e manter as proporções do todo!

Nessas férias, o ilustrador Olavo Costa ministra uma oficina de Desenho de Observação aqui na Quanta! Além de falar um pouco sobre desenho (e desenho de observação, linha de contorno, mimese, verossimilhança, proporções, entre outras coisas), vai propor diversos exercícios (de desenho cego, de interpretação de formas abstratas, de percepção tonal, técnicas de medição e triangulação) a partir de referências e de observação tridimensional, para você praticar este fundamento importantíssimo no desenvolvimento da sua arte!

* é o que diz, por exemplo, Paul Valéry no ensaio “Ver e traçar”, publicado em “Degas Dança Desenho” pela CosacNaify