Muita gente vem pra cá querendo ser artista ou ilustrador profissional pensando assim: “ah, hoje em dia é tudo digital, então, se eu quiser trabalhar com isso, não preciso aprender essa coisa antiga de pintura tradicional”. Na verdade, os fundamentos da pintura (que a gente trabalha muito no nosso curso de Técnicas de Pintura) são importantíssimos também para quem quer trabalhar digitalmente! Já pensou nisso?
É pintando, por exemplo, que a gente aprende a trabalhar com massas, lidando com um pensamento mais pictórico do que gráfico, interpretando luzes, cores e formas para criar a ilusão de volume através das manchas. É assim também que a gente aprende a trabalhar os contrastes (especialmente o de valor tonal) na imagem, separando figura de fundo, definindo ponto focal etc. É pintando que a gente aprende a misturar cores; a relacionar cores no espaço da composição (já que a nossa percepção é sempre subjetiva e relacional); a criar composições cromáticas e paletas interessantes definindo climas, atmosferas e emoções para ambientar nossas cenas; a fazer uma cor vibrar ou se apagar, dependendo do entorno, dosando contrastes, saturando, dessaturando, iluminando, escurecendo; a controlar passagens suaves e duras (hard edges e soft edges) etc. A gente aprende a trabalhar com camadas, seja para escurecer, adicionando camadas com transparência, seja para clarear, cobrindo com uma camada mais densa e opaca. Além de aprender a lidar com as ferramentas e materiais expressivos (no nosso caso, grafite, aquarela e guache).
Todo esse conhecimento prático será fundamental para você fazer suas pinturas digitais ou colorir suas páginas de quadrinhos, personagens ou ambientes, entendendo como o programa funciona (afinal, ele sempre tenta simular uma técnica ou material ou processo gráfico “tradicional”). E, mesmo hoje em dia, vários artistas ainda trabalham com técnicas “tradicionais” ou as mesclam com técnicas digitais. No universo do livro ilustrado, em especial os livros infantis, podemos pensar em inúmeras referências. Mas até em meios predominantemente digitais, temos exemplos de artistas como Nathan Fowkes, Lou Romano e Lorelay Bove que usam até guache (isso mesmo, guache!) para desenvolver seus trabalhos de concept art ou color script para estúdios como DreamWorks, Disney e Pixar.
É sempre bom lembrar que é mais importante gostar de pintar (do processo) do que gostar da própria pintura (do resultado). Isso porque a gente sabe que é praticando que a gente aprende! Foi assim que você aprendeu a falar, a ler, a escrever, a andar de bicicleta, a desenhar e a fazer tudo o que você sabe fazer, não é mesmo? Por isso é tão importante criar o hábito, de modo que o exercício seja também um prazer, e não um martírio.
E você? Já fez algum curso de pintura (aqui com a gente ou em qualquer outro lugar)? Como foi a experiência? Isso te ajudou com os trabalhos digitais? Compartilhe aqui com a gente!