A gente sempre fala aqui na Quanta que a gente só aprende a fazer alguma coisa fazendo. Foi assim que a gente aprendeu a falar, a ler, a escrever, a andar de bicicleta e a desenhar também. Então praticar é fundamental! Por isso é tão importante criar o hábito, de modo que o exercício seja também um prazer, e não um martírio.
Porém, mesmo pra quem já desenha, muitas vezes começar a pintar pode ser intimidador. Até dá pra entender: parece que você vai precisar de muito espaço para guardar suas telas; parece que você vai precisar dos melhores cavaletes, pincéis, paletas e godês; parece que é algo que precisa de muita preparação (exige um pouco mesmo); e que você vai precisar passar muito tempo numa pintura até ela ficar boa. Então, parece que é difícil praticar… Por isso, tem gente que não pinta justamente porque acha que não dá pra praticar pintura no dia-a-dia, a não ser que você seja um grande artista e tenha o seu grande ateliê. Pura bobagem!
Aqui na Quanta, por exemplo, no nosso curso de Técnicas de Pintura, a gente faz pintura sobre papel, com aquarela e guache. De cara, já não precisa de cavalete, o que facilita um bocado – e, ainda assim, usamos uma prancheta para manter o papel levemente inclinado. Essas tintas são ambas a base de água, o que facilita também a limpeza, tanto dos materiais quanto das mãos. Não têm cheiro forte e não são tóxicas*, ou seja, dá pra trabalhar em casa, mesmo em espaços pequenos – ainda que seja sempre bom que sejam ventilados e bem iluminados. Essas duas técnicas (aquarela e guache) nos ensinam as bases dos processos de pintura transparentes e dos processos de pintura de cobertura. Nas técnicas transparentes ou aguadas, pintamos do claro para o escuro, preservando o branco do papel como “luz”. Já nas técnicas de cobertura, pintamos do escuro pra o claro, abrindo as “luzes” da composição sobre as camadas mais escuras, com a tinta densa e opaca.
Além disso, a aquarela é uma ótima ferramenta para se trabalhar em sketches rápidos, em estudos muitas vezes feitos ao vivo, “en plein air” (ao ar livre). E dá pra fazer isso tanto com os materiais que costumamos usar pra pintar quanto com algumas invenções modernas que tentam deixar mais práticos esses processos como os pincéis com reservatório de água no lugar do cabo de madeira, por exemplo.
Se no passado essas aquarelas ao ar livre eram mal vistas como meros estudos para grandes pinturas, hoje em dia os estudos (o processo) costumam ser tão valorizados quanto a “grande obra” (o resultado). Para quem está estudando então, gostar de pintar (curtir o processo) é muito mais importante do que gostar da própria pintura (o resultado).
Quando estamos estudando, todo aprendizado pressupõe que a gente saia da nossa zona de conforto. É a descoberta do novo, o embate com o diferente, o desafio da adversidade, a mudança de perspectiva, que faz com que a gente, através da prática, aprenda. E você, tem alguma dica de como praticar pintura no dia-a-dia pra deixar pra gente nos comentários?
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* (Tanto o meio solvente – água – quanto os aglutinantes – cera, goma e glicerina – dessas tintas não sejam tóxicos em contato com a pele ou para serem inalados, ao contrário dos aglutinantes da tinta acrílica ou do solvente da tinta óleo, por exemplo. Mas é bom lembrar que alguns pigmentos – independente do tipo da tinta, como os vermelhos e amarelos de cádmio – podem ser tóxicos sim. Muitas contém metais pesados ou substâncias sintéticas que não são seguras com uma exposição prolongada. Então é sempre bom tomar cuidado pra não ficar ajeitando a ponta do pincel com a boca ou usar o mesmo copo ou prato de comer pra misturar a tinta, certo?)