Desenho – apredendo a ler símbolos gráficos
Talvez, durante a experiência de vida das pessoas, durante seu processo de aprender o que é real, estas percepções as afastem do entendimento da leitura dos signos, dos símbolos gráficos, visuais. O que é uma pena, porque este aprendizado passa por um processo muito interessante, que é bastante profundo em termos de interpretação de seus significados.
Quando se pensa em uma palavra, por exemplo, ela pode representar um número enorme de possibilidades de idéias e interpretações… Uma palavra pode reunir em si mesma um conceito muito mais complexo. Símbolos gráficos também são assim.
Quando nos dispomos a aprender a lê-los, os processos de entendimento sobre eles é bem mais amplo. Existem estudos que indicam que os povos orientais, por terem ideogramas como “alfabeto”, desenvolvem conexões neurais diferenciadas nas áreas do cérebro que regem estes atribuições. Existem também estudos, que pessoas que escutam certos tipos de música ou trabalham com certos tipos de arte, também apresentam estas conexões diferenciadas.
Quando entendemos estes processos no desenho, significa que estamos aprofundando nosso conhecimento… Um desenhista, um artista, quando olha para uma forma, seja ela de um ser humano, animal, árvore ou qualquer objeto, ele não vê apenas a forma apresentada no mundo real, ele abstrai essa forma, ela a codifica e depois a decodifica em linhas (no caso do desenho), em massas de cor (no caso da pintura) e em uma infinidade de outras possíveis maneiras de interpretação. Este olhar é desenvolvido…
Ele passa por este processo de leitura da forma… Ele passa a não ser mais uma forma, mas assume um significado. A princípio apresentada a ele como uma forma real, e depois saindo dele como uma interpretação, uma abstração desta forma. Uma coisa é o desenhista apresentar a forma do jeito que ela é… outra é o desenhista dar a sua visão desse forma. É aqui que entra a visão gráfica da forma.
É por isso que um mesmo personagem, o Superman, por exemplo, pode ser interpretado de diferentes formas (estrutura e acabamento diferentes) dependendo do artista.
O engraçado é que a criança já fazia isso antes… Então, parece que quando éramos criança, nosso olhar já codificava as formas… Já tínhamos este “talento”. Nós crescemos, aprendemos a complicar as coisas, no sentido (também) de que as formas perdem suas estruturas básicas… Se nos tornamos “artistas”, voltamos a desenvolver um olhar capaz de captar a essência das formas novamente. Saímos para depois voltar.
Pode parecer bobagem dizer isso, pode soar como algo fantasioso, mas, esse tipo de capacidade de abstração da forma, cria também maneiras diferentes de se ver o mundo, a vida, as pessoas e tudo mais. Não precisamos ser pragmáticos em tudo em nossa vida. Podemos aprender a abstrair. A ver além.
A partir dessa nova maneira de ver, de ler, de interpretar, de codificar formas através do desenho, da ilustração, das histórias em quadrinhos e de outras maneiras de se expressar, é que a arte passa a ter vida própria. Os reflexos desta nova maneira de ver, é claro, se estende não só pelas artes gráficas, mas também na literatura, no cinema, na música, etc. Talvez essa seja a diferença entre uma arte que propõe, e uma arte que faz apenas o que as pessoas querem e esperam dela…
Fim da parte IV
Leia também a parte I, parte II, parte III e a parte V (final)