Ilustração de Helena Enne

Ilustração de Helena Enne

Como é a vida de artista, vista por uma artista? Para mim, fazer arte é difícil. Viver de fazer arte é ainda mais difícil. Toda pessoa que trabalha de alguma forma com criação, sabe bem como é isso, creio eu. Mas é algo que eu amo muito fazer.

Trabalhar com criação é a minha ocupação, no sentido literal mesmo, é o que escolhi para me ocupar na vida. É a minha profissão, meu trabalho do dia-a-dia, e minha vocação, um chamado que vem de dentro, uma necessidade da alma mesmo. É lindo, é sofrido, é inspirador. Mas é difícil, não vou mentir. Trabalhar com criação, tanto no desenho, na pintura, na escrita, ou em qualquer outra modalidade artística, é complicado. É o dom da palavra, o dom da expressão, da pincelada, do lápis e da tinta. É dom. Mas também não é dom.

São anos infinitos de aprendizado que nunca se acabam. É treino, prática e muito esforço, muito estudo, muito suor, muito choro de angústia, pouca grana, muitas contas pra pagar, pouco reconhecimento. É insistência, teimosia, obsessão, noites sem dormir, cabeça cheia demais ou vazia demais. É pulso doendo, vista cansada, coração apertado. É não poder ficar nunca parado no tempo, estar sempre aprendendo, sempre aberto para o quê o mundo está dizendo, está nos mostrando.

É conseguir ter sintonia em uma sinfonia de barulhos e ruídos. É saber escutar, saber ver, para depois tentar reproduzir ali, naquela página branca que tanto nos atormenta com seu silêncio e suas milhares de possibilidades intangíveis.

Não tem como para mim, neste Dia da Mulher, deixar de falar sobre a questão de gênero na arte, e na escrita, pois são as duas profissões que escolhi viver. O tempo é curto, e o assunto complexo e cheio de uma miríade de fatores, mas vou tentar simplificar, por hoje.

Na minha vivência, se a profissão de artista já é difícil para qualquer um, fica um pouco, ou um muito, mais difícil se você for mulher (ou uma minoria, mas como o Dia é da Mulher, falemos da questão de ser mulher).

Ter seu trabalho levado a sério é difícil. É um respeito que tem que ser conquistado, demandado, exigido com muita briga. Mas não ‘muita’ briga, senão você é histérica, louca, desmedida, destemperada. Tem que brigar com finesse, com graça, com charme. Pode exigir, mas com jeitinho. Senão não pode. Tem que provar muito. Tem que provar a vida toda, porque nunca se é boa o suficiente, e a razão de tanta prova, às vezes, existe só por causa do seu gênero e não por causa da qualidade e mérito do seu trabalho.

É difícil ter seu trabalho sempre questionado, invalidado, criticado, destroçado até que não se sobre mais nada. Se você não aguenta a pressão, é porque não merecia mesmo ter esse lugar ao sol. Se não suporta o calor, saia da cozinha, não é o que dizem? E volte para a cozinha, que é o lugar de mulher. Mas não reclame muito das dificuldades, porque daí, é muito ‘mimimi’.

É difícil explicar os obstáculos que temos que vencer para quem não tem essa vivência, e é mais difícil ainda convencer da dificuldade extra que existe, para alguém que não as têm.

É difícil, gente, não é fácil não. O outro lado precisa ter empatia. Precisa ao menos tentar ouvir. Mas temos que continuar seguindo em frente, porque é pra frente que a gente tem que ir. Cansa, mas tem que se continuar. Sempre pra frente. Sempre sem desistir.

Então é só isso? É esse o seu conselho? Tem que continuar. E só?

Bom, o mundo está mudando. Ele anda com passinhos pequenos, parecendo curto demais para fazer alguma diferença, mas de pouco em pouco, ele segue em frente, no seu ritmo mesmo. 

As coisas estão um pouco melhores, eu acho, não são tão ruins como eram antes. Sei que às vezes não parece. Tudo parece ser tão horrível. Está aí a hora, talvez, para se tentar entrar em sintonia, mesmo no meio de tanto ruído e barulho ao nosso redor.

O mundo tenta dizer. Basta a gente saber ver, e saber escutar.

Eu, por exemplo, vejo hoje, com um orgulho que me enche o peito, mulheres se unindo, se juntando para caminhar juntas. Juntas, fica menos cansativo. Menos pesado. Tem menos solidão, menos desamparo. Tem mais força.

Juntas somos mais forte. É verdade. Que linda revelação foi essa, minha gente, quando descobrimos que temos mais poder, mais inspiração, mais beleza, mais voz, juntas. Vamos caminhar mais longe, com passos mais largos agora. Temos muito mais histórias para serem contadas e compartilhadas, porque estamos nos ouvindo mais, e nos apoiando umas nas outras.

Esse apoio é inestimável e vai gerar uma força que vai mudar o mundo. Bora então mudar o mundo, meninas?


Lilian Carmine é a autora da popular trilogia: The Lost BoysThe Lost Girl e Lost and Found, série de Romance Paranormal publicada pela Editora Inglesa Random House. TLB foi originalmente publicado no Wattpad e teve mais de 34 milhões de acessos na plataforma. A trilogia foi publicada no Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, África do Sul, Canadá, Itália, Turquia, Brasil e Portugal.

Lilian trabalha com roteiros para curtas de animação, como colaboradora do Birdo Estúdio de animação; e também com ilustração de livros infantis didáticos e para-didáticos para diversas editoras Brasileiras.

Publicou em parceria com a Quanta Academia de Artes as coletâneas de quadrinhos ‘Quantoon’ lançado pela Ed. Sesi e ‘O Fim do Mundo’ pela Ed. Devir.

Seus lançamentos mais recentes foram a coletânea de contos de ficção ‘Mundos Paralelos’ publicado pela Ed.Abril (selo Mundo Estranho) com mais 10 autoras fenômenos do Wattpad Brasil, e seu último romance paranormal ‘Sorte no Azar’ disponível na Amazon.


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Texto escrito por:

Lilian Carmine