Parte II
No curso de desenho da Quanta, procuramos equalizar técnica e personalidade gráfica. Não consideramos que dentro do processo de aprendizagem, uma certa rigidez acadêmica em alguns fundamentos do desenho seja um fator prejudicial à criatividade, ou ao incentivo dela. Esta rigidez, muitas vezes, pavimenta o caminho para que essa criatividade esteja bem fundamentada em termos técnicos.
Em nossa aula de desenho fazemos o tempo todo questionamentos em termos de até onde uma escola de desenho, um curso de desenho, ou um curso de pintura, ilustração ou histórias em quadrinhos pode ir… No sentido de “invadir” a criatividade do artista impondo uma rigidez no estudo dos fundamentos do desenho sem que distancie o artista de seu estilo próprio.
O artista pode ter seu estilo, sua personalidade gráfica própria, mas ele deve ter consciência de que ela se desenvolve, ou seja, este “estilo” nato evolui. O que quero dizer, é que até mesmo o chamado estilo pessoal, não é uma coisa rígida, imutável, ele evolui. E esta evolução pode ocorrer de duas maneiras basicamente:
1 – O estilo evolui com base nele próprio, ou seja, ele se desenvolve, é aprimorado porque o artista vai compreendendo melhor e de forma gradativa este estilo dentro dele mesmo. Isso é bom, e funciona, mas também pode ser limitador, já que é um processo que pode ser considerado autofágico. Ele pode evoluir baseado em soluções gráficas que estão, provavelmente, viciadas.
2 – Esta personalidade gráfica se desenvolve quando o artista se propõe a afastar-se um tempo dela, para se dedicar ao estudo técnico do desenho, aos fundamentos do desenho. Este estudo técnico, o leva a entender as formas gráficas de uma maneira diferente e, assim, ele poderá observar e estudar seu estilo, sua personalidade gráfica com certo distanciamento. Este distanciamento permite que o artista veja seu próprio estilo “com outros olhos”, como se ele conseguisse se dissociar de seu próprio trabalho. Desta maneira ele percebe as soluções gráficas vindas de vícios adquiridos, e muitas vezes até de deficiências técnicas que ele “disfarça”, ou tende a chamar de “estilo”, e de uma acomodação em “seu jeito de desenhar”. Como você vê, tudo isso é um processo, e ele permitirá um avanço desta personalidade gráfica.
Se o artista não tem, não alcançou intuitivamente uma personalidade gráfica pessoal, ele pode desenvolver tecnicamente esta Linguagem, através do estudo da forma. Estudando os fundamentos do desenho (anatomia, luz e sombra, perspectiva e composição), o artista vai entender a forma, vai compreender como se chega a soluções gráficas e como se “cria” uma maneira gráfica de representar a realidade. Este estudo da forma tem como base o aprofundamento nos conhecimentos de estrutura, não só em anatomia, mas também nos outros fundamentos do desenho. Enganam-se (e muito) os desenhistas que pensam que o estudo de estrutura está relacionado apenas à anatomia. O artista estuda estrutura em tudo… Estrutura na composição, na luz e sombra, na perspectiva, em tudo.
É dentro destes contextos que consideramos o estudo de desenho, às vezes visto como “rígido”, como uma ferramenta muito útil para o avanço de uma personalidade gráfica pessoal.
Fim da parte II