Parte I

Vamos falar sobre aprender a desenhar. Vamos falar sobre como construímos o curso de desenho da Quanta. Como nossa escola de desenho funciona e como acontece nossa aula de desenho.

O que é desenhar? A Quanta gosta de pensar que não existe uma maneira correta de se desenhar, que não existe matemática nisso. Para nós não existe o desenhar certo ou errado… O que existe é a intenção do artista. O que existe é a capacidade de comunicar uma ideia, um conceito. O que existe são as conduções e condições profissionais desses termos, ou seja, o que existe são as exigências do mercado de trabalho e de suas diversas linhas editoriais. O que é desenhar bem para uma linha editorial específica, o que é não desenhar bem para certa linha editorial específica, e por aí vai. Desenhar é uma forma de expressão e, para todos – tanto para os que desejam ser profissionais ou não – existe a possibilidade de se expressar através do desenho.

Quando se tem uma escola de desenho, um curso de desenho, a função é ensinar. Fazer com que aqueles que estão aqui tenham sanadas suas expectativas em aprender a desenhar. Assim, o que procuramos fazer em nossa escola de desenho, é equilibrar a equação técnica / identidade gráfica (só para elucidar o termo identidade gráfica: é o que comumente se chama estilo. Achamos que a palavra estilo não define bem o que consideramos identidade gráfica, ou seja, o artista ter, ou desenvolver, o chamado estilo próprio. Por isso, em nossas escola de desenho usamos a terminologia identidade gráfica). Simplificando, procuramos conceitualizar nossa escola de desenho e sua filosofia dentro da possibilidade de ensinar sem destruir a identidade gráfica do aluno.

O ensino de desenho estava ligado ao estudo (quase que exclusivamente) acadêmico. Mas, já há muito tempo, escolas de desenho consideram este tipo de condução insuficiente para o estudo do desenho, pintura, ilustração e tudo mais. Os cursos de desenho e escolas de desenho estão tentando alcançar o equilíbrio entre dois direcionamentos; o clássico e o “moderno”. Existe até mesmo a preocupação de uma polarização entre os dois extremos, escolas de desenho centradas apenas no acadêmico e outras apenas no moderno. Este moderno consiste em entender que tudo é arte, “deixando o aluno livre demais” e desconsiderando o acadêmico.

A Quanta também procura este equilíbrio entre as duas correntes, e também procura fazer isso mantendo a identidade gráfica do aluno que chega até nós.

Para continuar conversando sobre isso (e mais tarde chegar onde quero), preciso antes dar a você uma idéia sobre o que estou chamando de acadêmico e moderno.

Como acadêmico, me refiro ao estudo com base no neo-clássico, a interpretação do real com princípios rígidos de um período da arte grega e romana que, de certa forma, engessava a criatividade. E como moderno, incluo o contemporâneo e vanguarda.

Sei que esta é uma discussão bem menos simplista da que estou propondo aqui, mas queria apenas esclarecer estes dois conceitos de forma geral.

O estudo acadêmico de desenho, pintura, etc, é tão importante quanto o chamado moderno (e este também já está em idade bastante avançada). As relações entre artista, arte e público mudaram com o tempo, com a imprensa, com a publicação. Os mercados mudaram. Agora não apenas pintamos papas, reis, nobres ou decoramos igrejas… Servimos a outros propósitos, a outros veículos. Antes servíamos à nobreza e à religião, hoje, ao entretenimento e à informação (na maioria das vezes).

Discussões à parte, ainda nos expressamos. E o estudo acadêmico é uma ferramenta poderosa para que consigamos nos expressar melhor. Ela não é uma ferramenta obrigatória, talvez hoje ela já não seja vista da maneira pragmática como antes, mas pode ser encarada como necessária na obtenção de resultados melhores, mais conscientes e consistentes.

Claro que ainda existem os artistas que propõe. Apresentam conceitos e idéias, sem terem em vista mercados, que não vejam a arte como um meio de subsistência, ou a “dualidade” expressão / subsistência. Mas, até mesmo eles são inseridos, querendo ou não, em um mercado. A arte, a expressão, o discurso de artistas plásticos também são consumidos, classificados, absorvidos pelo mercado específico das artes plásticas, então, sob este ponte de vista, torna-se também um “produto”.


Fim da parte I

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