Parte II
A experiência conta muito, eu acho. A vivência conta muito. Quando sentamos para estruturar nossos cursos de desenho, quadrinhos, ilustração, pintura.. ou qualquer um de nossos cursos, a ferramenta que usamos é a experiência. É nossa vivência como profissionais, como desenhistas, pintores, ilustradores, quadrinistas.. é o que vivemos. A ferramenta é nosso conhecimento do processo.
De como ele foi para cada um de nós. O que acontece, é que este processo nunca acaba. Nunca. Compreender isso faz parte desse mesmo processo. Estamos sempre no caminho de aprender… aprender significa o ato de segurar alguma coisa… neste caso específico, de segurar conosco o conhecimento e o domínio de alguma técnica específica. Assim, nunca paramos de mudar nossos cursos de desenho, cursos de quadrinhos, ilustração, ou qualquer outro. Porque compreendemos isso.
Entendemos os objetivos reais de cada um dos cursos com o tempo. Entendemos onde queremos chegar e o que é importante ensinar e como ensinar, com o tempo. E é este aspecto que eu, particularmente, mais gosto, porque mostra que realmente estamos sempre em um processo de aprendizagem.
E uma das dificuldades maiores é entender que o que oferecemos é um curso de desenho. Um curso de quadrinhos, um curso de ilustração… e não exatamente o que as pessoas querem. Oferecemos o que elas precisam. E esta percepção vem da experiência do que é importante e não do que é “legal”… do que esta na moda, no momento. E isso é complicado. Com certeza é pretensioso… Falar que sabemos o que vocês precisam, mas todo curso de desenho trás consigo uma espécie de pretensão, não é? No entanto, na minha percepção, essa pretensão pode ser anulada com a vontade de ensinar.
Essa vontade vem do fato de querermos que você entenda algumas coisas que já entendemos, e que você perceba o quanto isso é importante. Porque nós somos apaixonados pelo processo da mesma maneira que vocês. E queremos manter isso vivo nas pessoas, porque consideramos isso importante. Mas, ensinar é dar o que vocês precisam e não o que querem. É ser aquele amigo que fala pra você o que você precisa ouvir, e não o que você quer ouvir. É ser aquele amigo que avisa que a roupa que você esta vestindo não tá legal em você… que avisa que você é desafinado… É muito fácil fazer o que vocês querem.
É muito fácil dar exatamente aquilo que vocês querem.. Isso não exige esforço. Sabe aquele pai ou mãe que ao invés de ensinar o filho a arrumar o armário dele preferem arrumar eles mesmos o armário porque “é mais fácil e rápido”? Pois é. Dá bem mais trabalho ensinar o filho a arrumar o armário. E é isso o que queremos.
É preciso entender onde cada um dos cursos é necessário. Onde cada um deles é importante na formação do artista. Qual o aspecto que queremos mostrar em cada curso. Algumas coisas andam paralelas… Por exemplo, o curso de História em Quadrinhos… Se a pessoa conhecer e dominar os recursos e ferramentas gráficas da narrativa de uma HQ, ela pode contar uma ótima história desenhando com palitinhos.
Isso é possível. Mas, é importante também que você conheça, estude, aprimore seus conhecimentos de domínios sobre essas ferramentas. Agora.. embora você possa contar uma ótima HQ só desenhando com palitinhos, se você souber desenhar bem, se dominar os fundamentos do desenho, como perspectiva, anatomia e luz e sobra, pode melhorar sua maneira de criar uma boa HQ… Porque terá essas ferramentas a mais. Assim, são dois conhecimentos que caminham paralelamente; o conhecimento de narrativa de quadrinhos e o conhecimento de desenho.
Tudo compõe. Acho que com o tempo vamos percebendo isso, e isso exige maturidade e paciência. Modas passam. Mercados passam. Mas o conhecimento permanece.
É importante equilibrar aquele prazer em só desenhar, com a busca pelo desenvolvimento, pelo conhecimento, de uma maneira leve, prazerosa. O estudo não é exatamente “chato”. O estudo faz parte do processo. O que eu acho que as pessoas precisam entender é que não precisa existir uma divisão entre o que a pessoa quer como sendo o prazer, e o que ela precisa como sendo a obrigação, como algo “chato”.
Acho que as pessoas se enganam correndo atrás apenas do querem, não entendendo que, muitas vezes, fazer o que é necessário é importante até para a formação do caráter, de humildade. Muitos dizem entender isso, mas poucos fazem. Porque na hora, só querem o que querem. E onde está o crescimento nisso? Onde está o desafio? A busca por só o que vocês “querem”, a busca pelo “prazer”, vamos dizer assim, nos torna mimados. Parece que as pessoas agora só buscam os prazeres e não entendem a importância do “passar por coisas que não queremos”. É como não querer sofrer na vida. Isso é impossível.
Todo mundo sofre. O que torna o sofrimento pior, o que torna “uma coisa difícil” ou “mais difícil” é a necessidade de só ter prazeres. E isso é impossível. Não estou querendo aqui bancar o Deepak Chopra.. Só estou dizendo que as coisas não precisam ser assim, tão pragmáticas. Entender que existem momentos em que você precisa aprender o que você precisa para depois fazer o que gosta, não é uma coisa que devia trazer um peso que não existe! O processo de crescimento, de evolução é você entender que estas duas coisas são paralelas.. elas não são más ou boas, elas são parte de um coisa só.
É isso que tentamos fazer aqui na Quanta. Tentar passar pra vocês o que não é transitório, passageiro, mas o que é, de um certo ponto de vista, estável.
Um abraço pra todos.
Fim da parte II
Leia a parte I