Parte I

Crianças gostam de desenhar. Elas simplesmente gostam. Elas aprendem nas aulas de educação artística que desenhar é legal. Não são exatamente aulas de desenho, não é exatamente um curso de desenho. É só desenhar. É um processo de expressão. É onde elas soltam sua criatividade. Aprende a se relacionar com o criativo.

Porque alguns de nós depois que crescemos paramos de desenhar? Minha opinião não é a de que “os que tem um dom” ou “tem jeito pra coisa” continuam. Para mim, os que continuam são aqueles que mantêm a paixão pelo processo, pelo ato de desenhar. Puro e simples como aquele “crianças gostam de desenhar”. É a paixão pelo desenho, o amor pelo momento em que desenhamos que nos faz continuar.

Para muitas dessas pessoas, chega um momento em que surge a necessidade de aprender a desenhar, chega o momento dos cursos de desenho. Esse momento surge por causa da nossa paixão pelo desenho, pela ilustração, pela pintura, pela animação, pelo cinema, pelos quadrinhos. Essa paixão nos leva a admirar artistas específicos. A querer fazer exatamente o que eles fazem. E aí, as coisas começam a mudar, começam a ficar sérias. Queremos nos tornar profissionais. Queremos viver aquilo e “daquilo”. Todos nós precisamos pagar contas. Todos nós queremos e precisamos construir nosso mundo. O mundo real está aí. E, na grande maioria das vezes, ele não é lúdico. Às vezes ele não respeita nossos sonhos de nos tornarmos profissionais do desenho. Por isso procuramos aprimorar nosso trabalho. Nosso desenho precisa estar pronto para o mercado. Atingir exigências do mercado. E aí é que entram os tais cursos de desenho. Depois a coisa se segmenta em outros cursos mais direcionados; curso de histórias em quadrinhos, curso de ilustração… e aí a coisa vai segmentando ainda mais.. se tornando cada vez mais e mais específica. Curso de ilustração infantil, curso de quadrinhos de super-heróis, curso para melhorar nosso desenho de anatomia, perspectiva e mais.

A coisa se torna séria. Tensa. Aquela criança que gostava de desenhar precisa e quer atingir resultados. O sonho precisa ser alcançado. Aqui começa o grande desafio entre o que você quer e o que você precisa. E este também é o desafio para nós da Quanta muitas vezes temos que dar o que o aluno precisa e não o que ele quer. Para mim, este é o trabalho de um curso de desenho, de quadrinhos, de ilustração… seja do que for.

Todo curso de desenho trabalha com processos. Com um caminho a ser trilhado. Você fala de uma coisa, explica, o aluno atinge um resultado e aí passamos para a próxima explicação.. Existe um alvo, um objetivo, um aprendizado necessário a cada passo desse caminho. São os degraus de uma escada, como costumo falar aqui na Quanta. Você vai aprendendo uma coisa de cada vez, cada aprendizado é um degrau que você sobe, um conhecimento que você absorve, para que você possa subir o outro degrau. Cada conhecimento te habilita, te capacita a continuar sua evolução. Cada degrau te dá uma ferramenta especifica necessária para você poder subir e estar no próximo degrau. Assim, vem o conflito do querer desenhar e aprender a desenhar. Porque muitas vezes o que nós queremos não é o objetivo inicial… Ele é o objetivo final, ou pelo menos um objetivo que fica no meio desse caminho.

O processo de aprendizado de um curso de desenho pode cortar ou complicar a relação da pessoa com o próprio ato de desenhar. Porque muitas vezes a pessoa cria um conflito entre o que ela quer e o que ela precisa, no momento. Ela precisa de certas ferramentas para alcançar um resultado, mas o processo é lento e, na grande maioria das vezes, existe uma ansiedade muito prejudicial.. Muitas vezes a pessoa quer chegar ao que ela gosta, ao que ela quer, ao alvo. Mas não entende que isso é um processo. Então, ela pula etapas. Ela vai direto ao que se quer. Ao objetivo. Sem estar preparada para isso. E isso é o desafio. É o conhecimento. Esse é o desafio que temos aqui.


Fim da parte I

Leia a parte II