Desenho – visão prática e visão ampla

Quando você chega ao ponto de entender realmente o que é desenhar, fica realmente complicado julgar o trabalho de alguém, dizer que ele desenha mal ou bem… Existem tantas maneiras de se analisar isso. Porque não são apenas os fatores técnicos que são observados… Podemos ver tantos trabalhos tecnicamente “impecáveis”, mas frios, sem alma, pragmáticos… Estes são  tecnicamente perfeitos, mas são repetição da repetição, das repetições de tantos e tantos outros artistas. É obvio que existe a evolução técnica de um trabalho, mas muitas vezes que um trabalho é “apenas” tecnicamente bom.. e isso, muitas vezes, não basta.

O que existe é o que você quer fazer com seu desenho. Se você quer ser um profissional existem pré requisitos específicos para cada mercado de trabalho… Muitas vezes pragmáticos. MAS, eles são, em última instancia, um reflexo do entendimento também pragmático do público para o qual este trabalho é direcionado.

Publicar é tornar público. Quando um artista publica seu desenho, ilustração ou exibe seu desenho animado, ele está mostrando isso ao público. Por isso, seu trabalho acabada entrando em níveis, sendo categorizado pelo público que o recebe e pelo editor que tenta atingir e atender a esse público específico. Na verdade, antes de um trabalho ser publicado ou mesmo entra em uma grade de TV, ele está categorizado, direcionado para um público especifico… Por isso existem linhas editoriais e programações de TV.

Ele cai naquela noção geral do que se entende por “desenhar bem”, sobre o qual já conversamos antes. Então, de novo, este “desenhar bem” é muito relativo… Relativo à área para a qual este desenho, ilustração, animação, etc, é direcionado. Desenhar bem histórias em quadrinhos de super-heróis tem seus próprios parâmetros de julgamento, assim como ilustrar livros infantis, ou livros didáticos infantis…Uma animação.. Cada mercado estabelece seus parâmetros.

O que é preciso que se entenda, é que desenhar é mais do que ver o desenho como uma ferramenta de mercado de trabalho. Desenhar é mais do que querer primeiro categorizar seu desenho, direcionando-o para algum mercado de trabalho. Desenhar é, antes de tudo, uma expressão.

O desenho e a narrativa são umas das primeiras formas de comunicação humana, categorizações e mercados apareceram bem depois, quando a arte passou a ser feita por artistas. Quando começaram os julgamentos sobre sua qualidade. Quando começaram a definir o que era ou não arte. Quando o público começou a “aceitar” um tipo de arte e outro não. Quando começou a existir uma espécie de ditadura cultural sobre o que é desenhar bem, pintar bem e por aí vai. De qualquer maneira, mercados e categorizações são apenas aspectos do processo de “aprender” a desenhar… Um aspecto muito direcionado… Porque existe também o movimento de simplesmente desenhar.

Existem processos diferentes de aprendizado. Existem também expectativas diferentes dos alunos em relação à escola e ao tipo de evolução que eles desejam alcançar. E isso está ligado às tais categorizações e mercados.

O que tentamos fazer aqui, durante as aulas, é, aos poucos, propor uma visão mais ampla sobre arte. Isso porque, geralmente estas expectativas dos alunos, existem apenas porque eles não conhecem outras maneiras de se pensar desenho, ilustração ou histórias em quadrinhos, por exemplo. Ou seja, os alunos só vêm um aspecto da coisa toda. Não enxergam o cenário todo, todas as possibilidades, e por isso estão fechados em apenas uma maneira de pensar. Estão engessados em uma só verdade.

Aos poucos, eles podem abrir mais suas percepções e entendimentos, e assim, começam a ver que a coisa toda é muito maior e muito mais legal do que imaginavam.

Com o passar do tempo, eles começam a ver cenários maiores e percebem todo este discurso descrito aqui… Que não existe um jeito certo de se desenhar. Que existem adaptações a certos mercados, no caso daqueles que querem trabalhar para “certos” mercados, mas que existe apenas a vontade de se expressar.


Fim da parte V (final)

Leia também a parte Iparte IIparte III e a parte IV