Desenho – formas, sensações e abstrações

Quando as pessoas vêm desenhos mais “estilizados” (como o caso da tal casinha), elas tendem a considerar aquilo um desenho bonitinho… Geralmente direcionado ao público infantil. Dando exemplos deste tipo de desenho (a grosso modo); temos o Pernalonga, o Mickey, o Pica-Pau, Popeye, Dexter, Meninas Super-Poderosas, Menino Maluquinho, Mônica, Cebolinha, e por aí vai.

Essa visão geral cria a impressão de que aquilo não é exatamente “desenhar bem”… É só um desenho para crianças. Isso porque uma mão desenhada ali, por exemplo, não seja exatamente uma mão como ela é na realidade. Alguns até dizem; este é um desenho que “até uma criança poderia fazer”*.

Talvez o que esteja sendo pregado pela cultura geral das pessoas é que o fato de que até uma criança pode fazer esse desenho, descaracterize o fato de aquele desenho não atinja o objetivo de ser bom porque não é realista, mesmo que esse desenho tenha alcançado o objetivo de comunicar corretamente uma idéia, um conceito… Como o exemplo da casinha, “mal desenhada”, mas que todo mundo entendeu que era uma casinha.

É engraçado como algumas pessoas acham que desenhos estilizados são desenhos direcionados às crianças. Talvez porque as crianças aceitem melhor desenhos que não sejam tão “realistas”… E desenhos “realistas” são melhores aceitos pelas pessoas, porque são baseados na realidade. Então, se eles não se parecem tanto com a realidade, não podem receber um mérito técnico maior, o de um “desenho bom”.

Neste sentido, talvez a palavra técnica caracterize a qualidade do desenho. O avanço técnico do desenhista então faz com que o desenhista faça bons desenhos. Que lugar ocuparia então, o tal dom natural do desenhista em fazer estes desenhos, citados nas frases que as pessoas sempre dizem aos desenhistas?

Quando meus filhos eram menores, eu adorava mostrar desenhos animados para eles. Adorava ver como eles reagiam àquelas imagens, àqueles movimentos… À maneira como os artistas envolvidos naquele processo todo da animação, conseguiam com um controle de timing, mobilizar, manipular, criar sentimentos corretos nos espectadores. Quando o momento na história sugeria o riso do espectador, eles riam. Quando a sugestão era medo, eles tinham medo. Quando era tristeza, ficavam tristes… E por aí vai.

Desenhar tem a ver com despertar sentimentos, sensações. Desenhar tem a ver com criar ligações com o que somos. Arte também é isso… Tem muitos níveis, e estão muito além de apenas técnica, como querem alguns.

Desenhistas e ilustradores que trabalham com materiais didáticos e paradidáticos direcionados para o público infantil, podem receber instruções dos editores destes livros e apostilas, para criarem estilos de desenho e ilustração, com traços infantis.

Quase como se fosse realmente uma criança fazendo aquele trabalho. Isso acontece por um fator psicológico.

Para criar uma proximidade maior entre a criança e o material didático, os traços não podem ser muito complexos ou realistas, porque se forem assim, acabam afastando a criança do material. Desenhos complexos e realistas podem não criar empatia com as crianças porque elas ainda trabalham, vêm o mundo como formas mais simples.

A complexidade das formas acontece paulatinamente conosco, à medida que adquirimos conhecimento sobre as formas.


Fim da parte II

Leia também a parte Iparte IIIparte IV e a parte V (final)