Parte III

Em nossa escola de desenho, temos basicamente dois tipos de aluno: o que já chega com um “estilo”, ou seja, já possui sua própria personalidade gráfica, e o que chega aqui ainda sem ter algo mais direcionado.

A questão é: como atendemos a cada um dos perfis?

Para aqueles que chegam até aqui para fazerem nosso curso de desenho com uma personalidade gráfica (estilo) indefinida, a preocupação é como fazer com que o estudo dos fundamentos do desenho não impeça o surgimento de um estilo pessoal.

Mesmo não tendo uma personalidade gráfica própria, este aluno geralmente chega aqui influenciado por desenhos, estilos e artistas de que gosta. Isso é inevitável. Todos temos nossos artistas e desenhistas preferidos… Não existe aquele que não gosta de nada, ou que nunca foi influenciado por algum artista. Se ele desenha é porque gosta, se gosta, gosta de alguém que desenha… E se gosta de alguém que desenha, acaba sendo influenciado por ele.

 
Perceba que cada um dos artistas acima possuem uma personalidade gráfica bem definida. Assim, a maneira como cada um deles traduz a realidade através de sua forma gráfica, ele se torna um artista com uma identidade gráfica forte, e assim, influencia outros artistas. E esta influencia gera uma série de vícios. E isso também é inevitável.

Estes vícios, também na maioria das vezes, estão ligados ao resultado final do desenho. Explico: na maioria das vezes as pessoas gostam de um desenho porque este desenho atrai. Ele cria uma empatia com quem está olhando. Mas, o que a pessoa está vendo é um desenho acabado, finalizado (não confundir com arte-final). Ela não conhece e nem sabe qual foi o processo de estruturação e acabamento desse desenho. Gosta do resultado final, mas não entende como ele foi construído, como ele chegou até ali.

Veja a personagem Jane, da animação TARZAN, da Disney, por exemplo… gostamos da forma finalizada dela… é essa forma que vemos. Mas não entendemos o processo para chegar a essa forma final. Não sabemos a estrutura dessa forma. Veja na imagem Jane 2 como o artista vê e constrói essa forma.

O outro ponto é que esta pessoa geralmente (e vocês vão ler a palavra geralmente muitas vezes por aqui, porque nada é absoluto) gosta APENAS deste ou daquele estilo porque não tem muitos outros parâmetros de arte. Ou seja, ela não conhece muitas outras formas de desenho. Á medida que nosso curso de desenho avança, ele mostra outras possibilidades de expressão gráfica e assim, nosso aluno começa a entender que existem maneiras diferentes de desenhar… Se existem maneiras diferentes de desenhar, deve existir também uma razão para isso… Porque existem tantas maneiras de se desenhar? Porque existem tantas personalidade gráficas diferentes? Talvez seja porque existem maneiras diferentes de estruturar um desenho, e posteriormente existem maneiras diferentes de criar acabamentos para este mesmo desenho.

Quando ele entende isso, e é isso o que pretendemos em nosso curso de desenho, você percebe que existem estes dois pontos no desenho: estrutura e acabamento. E isso, por si só, já abre uma porta gigantesca para os que estão em nosso curso de desenho.

Se ele compreender de verdade a importância da estrutura em desenho, saberá que sem conhecer a base (a estrutura), não entenderá o que é acabamento e qual sua importância na obtenção de um resultado gráfico diferente.

Tendo consciência da existência destes dois processos, e ao exercitar isso à medida que o curso de desenho se desenrola, ele começa a perceber os vícios que possui, vindos do seu gosto pessoal. Conhecendo como uma personalidade gráfica pode ser desenvolvida de maneira consciente, ou como uma personalidade gráfica pode ser aprimorada desde seu surgimento intuitivo até seu desenvolvimento consciente, e técnico, ele percebe seus vícios, percebe que seu gosto pessoal é baseado num conhecimento pequeno de tipos, estilos e formas de estruturar e criação de acabamentos.

Aqui a coisa complica. Porque ele se propõe a afastar-se do gosto pessoal para aprender. Ele se propõe a criar uma distância saudável de uma paixão, que geralmente prende, limita e engessa, para absorver um conhecimento mais profundo de desenho e, através do estudo da forma, entender essa forma, e não apenas repetir soluções gráficas já criadas por outros desenhistas, encontrar e moldar sua própria personalidade gráfica.

Veja outros exemplos de estruturação da forma.

São duas formas diferentes de se pensar a forma, mas ambas trabalham o mesmo processo de construção da figura, utilizando recursos e técnicas de desenho.

Esse é um momento delicado e corajoso, mas muito importante.

Agora veja exemplos de acabamento.

Você pode me perguntar agora o seguinte… “Você disse que o curso de desenho não tirava o estilo do aluno, mas agora disse que afasta esse aluno do seu estilo próprio quando diz que vai afastá-lo do que ele gosta de fazer! Como é isso?”. Na verdade, este não é o estilo dele. Ele tem este “estilo” porque está sendo influenciado por uma paixão, que geralmente engessa o conhecimento, sem conhecer outras formas de desenho em termos de estrutura e acabamento.

Portanto, a maneira como conduzimos o curso de desenho da Quanta, é propondo ao aluno que se permita, por um tempo, pelo menos como proposta de estudo, que se afaste desse “estilo” que limita seu crescimento (e que muitas vezes ele gosta só porque não conhece muita coisa além daquilo) para compreender que o estudo da estrutura e acabamento não são elementos que impedem o aluno a chegar a uma personalidade gráfica própria, ou evoluir a que já possui, mas que é, na verdade, uma ferramenta importante na libertação do aluno de vícios antigos para chegar a um resultado novo, e não só novo, mas que o leve a descobrir o que realmente gosta de fazer, ou seja, a encontrar sua personalidade gráfica própria.


Fim da parte III

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